Riscos e Benefícios Atualmente, fatores como o aumento da violência, o avanço da tecnologia e a falta de tempo têm imposto aos indivíduos um estilo de vida cada vez menos saudável. Essa realidade é ainda mais evidente no que diz respeito às crianças, que passam a maior parte do tempo assistindo à televisão ou em frente ao computador, construindo, desde os primeiros anos de vida, um perfil característico do sedentarismo.
Sabe-se que essa inatividade pode contribuir para o aumento do peso corporal e, conseqüentemente, para o desenvolvimento de diversas doenças . Sendo assim, o ideal seria implementar um programa de atividades físicas, associado a uma melhora do perfil nutricional, no cotidiano de crianças e adolescentes, em busca da promoção de uma melhor qualidade de vida. A elaboração de um programa de atividades físicas para crianças e adolescentes requer alguns cuidados, a começar pela escolha da atividade. É comum o discurso, mesmo entre a comunidade médica, que nestas faixas etárias a melhor opção seria a prática de esportes como vôlei, natação, futebol, entre outros. Isso é uma verdade quanto ao componente lúdico, o que atrai mais facilmente o jovem e torna a atividade mais prazerosa.
Por outro lado, ao contrário da crença popular, esse tipo de atividade é semelhante ou até mais sujeito à ocorrência de lesões do que a execução de exercícios físicos sistemáticos como acontece Na Musculação. Hoje, embora tenha sido massificado que a musculação pode promover diversos benefícios à saúde física e mental em diferentes idades , ainda se mantém alguns mitos e equívocos quando o foco é direcionado para o treinamento de indivíduos em fase de crescimento. A idéia mais difundida e o principal motivo de contra-indicação da musculação por médicos é que esta causaria a interrupção precoce do crescimento. Essa crença advém do fato que, nos ossos longos, o crescimento se dá em uma parte mais frágil, chamada placa epifisária. Ao se submeter o osso a sobrecargas extenuantes, estas placas podem ser lesionadas provocando a interrupção precoce do processo de crescimento.
Entretanto, as evidências científicas, praticamente em sua totalidade, sinalizam que a Musculação, quando realizado dentro de parâmetros de segurança e bem orientado, não influencia negativamente o crescimento. A principal orientação quando se prescreve a musculação para crianças e adolescentes é que sejam evitadas cargas máximas ou próximas do máximo, permitindo a execução de 8 a 15 repetições . Sendo assim, pode-se perceber que alguns esportes de força, impõem sobrecargas até mesmo superiores a força máxima que o indivíduo consegue realizar. O mesmo pode ser observado, por exemplo, com um simples salto realizado durante a prática do vôlei, proporcionando elevado impacto sobre a articulação do joelho. Mesmo assim essas atividades são livremente realizadas sem causar muita preocupação entre os pais e médicos. Outras recomendações no que diz respeito a Musculação é que sejam preferencialmente selecionados exercícios que trabalhem simultaneamente diversos grupos musculares e que os movimentos sejam executados por toda amplitude de movimento.
Não foi apenas a falsa concepção de que a musculação atrapalharia o crescimento que a manteve por tanto tempo afastada da realidade de crianças e adolescentes. Também se acreditava que esta seria ineficaz, já que nesta idade o sistema endócrino ainda está em desenvolvimento e alguns hormônios necessários para o crescimento da massa muscular ainda são pouco produzidos. Hoje se sabe que mesmo crianças podem obter ganhos em força com a prática da musculação, principalmente devido a adaptações do sistema neural. Outro engano é atribuir a Musculação efeitos negativos sobre a flexibilidade.
Evidências científicas mostram que, na verdade, a musculação não atrapalha esta qualidade física ou, até mesmo, torna as crianças e adolescentes mais flexíveis. Além dos ganhos em força e flexibilidade, outros benefícios que crianças e adolescentes podem adquirir ao incluir a prática da musculação em suas rotinas são: melhora da coordenação e da habilidade motora geral; melhora do desempenho em atividades desportivas, com, inclusive, redução da incidência de lesões durante sua prática; melhora do perfil lipídico (colesterol); aumento da densidade mineral óssea, importante fator no futuro quando a osteopenia e osteroporose podem ser um problema; e, até mesmo, melhora de aspectos psicológicos como o aumento da auto-estima.
Alguns estudos mostram, que a Musculação pode promover melhorias na composição corporal como a redução do percentual de gordura. Outro importante fator que merece destaque é que indivíduos que começam a praticar a musculação desde cedo podem ser mais propícios a manter hábitos saudáveis para o futuro, contribuindo para a promoção e manutenção da saúde e qualidade de vida durante o processo de envelhecimento. Como se pode perceber, ao contrário de especulações supervalorizadas e de argumentações defasadas e sem fundamentação científica, a prática da musculação, quando realizada de forma consciente e sob supervisão profissional, pode e deve ser implementada no dia a dia de crianças e adolescentes, proporcionando benefícios a curto e longo prazo com bastante segurança.
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