segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Preguiça para Atividade Física pode ser genética - Revista Época


Não tenha vergonha de ser preguiçoso. Pode ser genético. Um estudo do pesquisador americano Tim Lightfoot, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, revela que a falta de disposição das pessoas a realizar exercícios físicos pode ser altamente influenciada pela sua formação genética.

Em uma sociedade na qual a boa forma física é superestimada e vista como uma qualidade indispensável, aqueles que não conseguem seguir rigorosos planos de exercícios físicos muitas vezes sentem-se frustrados e atribuem a preguiça de se exercitar à falta de perseverança. No entanto, um recente estudo da Universidade da Carolina do Norte , nos Estados Unidos, sugere que a formação genética das pessoas pode exercer forte influência sobre a vontade – ou não – de se exercitar. Chefe da pesquisa, o cinesiologista (estudioso dos movimentos do corpo) Tim Lightfoot, líder do estudo, afirma que a composição genética pode ser responsável por 84% da capacidade física. “Enquanto alguns camundongos corriam de 10 a 15 km diários, outros entupiam suas rodas de corrida de serragem, para fugir do exercício”, contou a ÉPOCA o cientista. Na entrevista abaixo, Lightfoot diz que o próximo passo da pesquisa é encontrar os genes específicos que controlam a disposição para a atividade física nos humanos.


ÉPOCA - Por que o senhor decidiu estudar a propensão das pessoas à preguiça?

Tim Lightfoot - Começamos os estudos há cerca de 10 anos, quando os dados sugeriam que as pessoas não estavam mais ativas do que nas três décadas anteriores, apesar de todo o esforço feito pelo nosso governo, com as campanhas de saúde pública incentivando o exercício físico. Até então, a maior parte dos cientistas de nossa área acreditava que as pessoas não eram mais ativas por questões ligadas ao ambiente em que vivem – por não estarem próximas de academias, por não se sentirem seguras nos locais em que se exercitam, etc. A explicação não parecia completa o bastante, deveria haver uma outra peça do quebra-cabeças que explicasse tanta preguiça. Por que não pensar que fatores biológicos poderiam influenciar as atividades físicas?


ÉPOCA - Por que os estudos foram feitos em camundongos?

Lightfoot - Camundongos e humanos têm cerca de 95% dos genes iguais. Todas as evidências sugerem que se, há um gene em um camundongo, ele irá trabalhar da mesma forma que em humanos. Assim, quando descobrirmos estes genes, podemos observá-los nos humanos e dizer “ah, então duas pessoas muito ativas têm os mesmos genes funcionando”, ou “estes dois preguiçosos têm os mesmos genes funcionando”.


ÉPOCA - Como o estudo foi feito?

Lightfoot - Como os humanos têm cerca de 35 mil genes, demoraríamos séculos para estudar cada um deles. Optamos por reduzir a abrangência do estudo, e ter uma idéia de onde os genes responsáveis por determinada função estão localizados. Fizemos um mapa quase completo de onde os genes que interferem nas atividades físicas estão e identificamos 17 "lugares" no genoma que determinam quanta atividade se faz. O nosso próximo passo será estudar estes "lugares" ao longo dos próximos cinco anos e procurar os genes específicos que controlam as atividades nos humanos.


ÉPOCA - Existem diferentes níveis de preguiça?

Lightfoot - Descobrimos 36 níveis diferentes em camundongos, que variam do extremamente ativo ao extremamente inativo. Os mais preguiçosos fazem coisas como entupir as rodas de corrida de suas gaiolas de serragem, para não precisarem fazer exercícios, ou usá-las como um banheiro. Já os mais ativos parecem viver para o exercício, e chegam a correr de 10 a 15 quilômetros por dia, o que nos humanos equivaleria a correr de 90 a 110 quilômetros diários!


ÉPOCA - No futuro, a preguiça poderá ser combatida com medicamentos?

Lightfoot - Parece que existem alguns casos intermediários que podem ser farmacologicamente controlados. Contudo, o importante é descobrir que existem diferentes meios de motivar as pessoas a fazer exercícios físicos. Se alguém tem uma pré-disposição a ser inativo, quem sabe existam formas diferentes de motivá-lo. Nos Estados Unidos, algumas empresas pagam para funcionários fazerem exercícios físicos, pois assim seu trabalho rende melhor, e a empresa gasta menos com saúde. Se te pagassem, você se exercitaria mais? Eu, com certeza, sim.


Revista Época - Atividade Física - 21/09/2008

Nenhum comentário: