quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Relação entre Dor Física e Dor Psíquica

Qual dor parece ser mais intensa e permanece por mais tempo? A física ou a emocional? Atualmente, através de estudos das neurociências, já se descobriu que mente e cérebro são indissociáveis e que a aquela angústia ou depressão, por exemplo, podem ser muito mais intensas que uma fratura. “O processamento mental da dor e do sofrimento vem sendo mais bem conhecido e já se reconhece que o sofrimento psíquico imposto por um evento doloroso muitas vezes é mais devastador que a própria lesão”, explica a psicóloga Dra. Dirce Perissinotti, coordenadora do grupo de apoio Mulheres que Doem Demais.

O “boom” emocional pode ser tão forte que até pessoas que possuem agenesia congênita da dor (incapacidade de sentir a dor) podem desenvolver algum tipo de dor. É o caso relatado em um estudo de 2003, em que uma paciente, após perder o irmão em acidente automobilístico, adquiriu uma cefaleia tipo tensão por uma semana. “Mesmo em quem não apresenta mecanismos naturais para o desenvolvimento da dor, em situação de grande sofrimento psíquico há o empenho de mecanismo fisiológico correlato à dor – o que leva o indivíduo a sentir dor”, comenta Perissinotti.

A dor ou o fenômeno doloroso vem sendo estudado e explicado cientificamente pela transmissão de inúmeras percepções no seio do sistema nervoso. Por outro lado, ocorrem inevitáveis consequências psicológicas e sociais que, por exemplo, uma dor crônica acarreta. A psicóloga explica: “as repercussões do distúrbio doloroso vão além do aspecto nociceptivo, ou seja, de como seu desenvolvimento se dá no sistema nervoso”.


Dores crônicas


Há ligação visível entre aspectos emocionais e físicos nos processos de dores crônicas. Casos de fortes abalos na vida pessoal viram o estopim para o aparecimento de dores, assim como depressão e somatização aparecem em decorrência de longo período de sofrimento.

Entre as mulheres, a dor crônica geralmente se dá entre os 40 e 50 anos de idade. Além dos probleminhas físicos que aparecem com a idade, é nessa hora que o peso da carreira profissional desestabilizada e os planos de futuro não concretizados pesam.

Em levantamento realizado no Centro de Dor do Hospital 9 de Julho para aferir a qualidade de vida em um grupo de 80 mulheres portadoras de dor crônica, foram constatados que:
- 35,04% relataram ter diminuído a quantidade de tempo que dedicavam ao trabalho, nas últimas 4 semanas, devido à saúde física, assim como 42,34% informaram ter realizado menos tarefas no mesmo período;
- 28,47% responderam que estiveram limitadas para o trabalho, devido a problemas emocionais.
- 24,82% relataram sentir-se desanimadas ou esgotadas a maior parte do tempo.
- 20,44% responderam que a intensidade da sua dor é grave.

Mas o que é dor?

De acordo com a International Association for the Study of Pain, dor é “uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a uma lesão tissular real ou potencial, ou ainda descrita em termos que evocam essa lesão”. O problema está em explicar como, de fato, o fator psíquico incide. “Constata-se que uma das principais causas da emoção dolorosa, cujos mecanismos ainda estão pouco explorados, é que a ambiguidade do termo “dor” em inúmeras línguas contribui para que ela só venha a ser descrita em termos que evocam uma lesão tecidual. Reconhece-se hoje que a dor poderia existir apenas no plano do vivido e na queixa de quem a exprime”, explica Dirce.

E a doutora frisa: “É necessário abrir novos caminhos na pesquisa cientifica para situar corretamente a parte do psiquismo na determinação do fato doloroso como o plano vivencial de quem sofre uma dor, seja ela de que origem for”.

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